“Os olhos abertos para ver o Cristo” — Reflexões sobre Lucas 24

Thiago Holanda Dantas
3 min readDec 30, 2022

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…mas os olhos deles foram impedidos de reconhecê-lo. Lucas 24:16

Então os olhos deles foram abertos e o reconheceram, e ele desapareceu da vista deles. Lucas 24:31

Então lhes abriu o entendimento, para que pudessem compreender as Escrituras. Lucas 24:45

Uma das passagens que mais li nas Escrituras é a volta dos dois discípulos de Jerusalém para Emaús e de Emaús de volta a Jerusalém. Esse caminho é traçado por todos os discípulos de Jesus e é motivado pelo sentimento de decepção. A decepção vem da ausência física de Jesus, da sua morte e da queda de todas as esperanças. No entanto, o retorno é como a verdadeira fé: um ato de revelação do próprio Cristo. Os discípulos não conseguem reconhecer Jesus ressuscitado até que ele se manifeste e abra os seus olhos.

Ver Jesus é fácil, ele pode ser mais um guia espiritual, um revolucionário, um sábio, ou qualquer outro título humano. Mas ver o Cristo, o Senhor e Deus, somente através de revelação. Os olhos dos discípulos estavam impedidos de reconhecer Jesus, como se essa ação partisse dele. Assim, como quando Maria vai visitar o túmulo, também não o reconhece. Seu reconhecimento acontece apenas quando Cristo a chama. Quando ouve seu nome: “Maria!” (Jo. 20.16), seus olhos são abertos e ela passa a enxergá-lO nessa nova realidade.

O impedimento de ver Cristo é a clara evidencia que nossos olhos mortais não têm capacidade de vê-lO. Lutero dizia que Cristo, depois da ressurreição, só poderia ser visto através da cruz. Ele era o Deus absconditus, o Deus escondido, que estava propositalmente oculto aos olhos mortais, mas, aberto para os olhos da fé. Isto é, só era possível vê-lO a partir de agora, olhando para a cruz, além disso, deveríamos esperar que ele se manifestasse. O centurião só vê o Cristo quando Jesus morre na cruz (Mc.15.39). Antes disso, todas suas palavras são mal entendidas, seus ensinamentos distorcidos e sua divindade obscura. O Jesus nazareno, daquele momento em diante, havia ficado para trás. Isso significa que depois da ressurreição, Cristo não poderia mais ser visto como um ser humano comum, mas somente como o Deus encarnado,o Rei de toda a humanidade, que não pode ser compreendido pelo entendimento humano.

A única forma de ter um vislumbre de Cristo é através de sua manifestação e da confiança sobrenatural, a revelação do Pai, como afirmado por Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt.16.16). Só Deus poderia afirmar que Jesus era o Cristo, e foi assim que Pedro teve esse vislumbre. Os olhos dos discípulos são abertos depois da comunhão e do partir do pão, o que simboliza a mudança na relação entre Jesus e os discípulos, e que agora só através desse ato de lembrança é que Cristo pode ser visto. A Ceia atua como uma luz que ilumina nossos olhos para uma realidade superior, juntamente com as Escrituras, que são a última obra de manifestação de Cristo. As escrituras só pode ser lida, com o auxílio e a presença de Cristo. Sem Sua presença, a Bíblia perde a sua revelação, graça e salvação. O que resta é a letra que mata. Ficamos como cegos que procuram algo além do que os olhos podem ver, completamente alheios da realidade proposta por Cristo. Sem Cristo, a nova criação se torna uma utopia vazia e falsa, sem esperança para o presente e para o porvir. Sem a presença de Cristo, continuamos cegos e, pior ainda, sem vontade de enxergar.

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Thiago Holanda Dantas

Teólogo, professor, licenciatura em filosofia, missionário e escritor de blog. instagram.com/vanitasblog . Segundo colocado da 3ª Chamada Ensaios do Radar abc2